terça-feira, 15 de março de 2011

Felipe Wu, um campeão do tiro feito em casa

Um talento feito quase exclusivamente em casa. Literalmente. É o caso de Felipe Wu, que ganhou o status de promessa do esporte brasileiro desde a conquista da medalha de prata na prova de tiro do Mundial da Juventude, no ano passado. Sua história contraria a tradição do esporte, fortemente ligada aos militares, o qual levou o País a sua primeira medalha de ouro em olimpíadas, com Guilherme Paraense, em 1920.

Atualmente, Wu, de 18 anos, se dedica à prova da pistola de ar, distância 10 metros. "Eu gostaria de também poder treinar pistola livre, mas não posso porque estou impedido de transportar armas. A lei brasileira determina que você só pode ter porte aos 25 anos", explica. Não é o único embaraço vivido pelo atirador em sua rotina de competições. "Viajar é sempre um problema. Você precisa chegar três horas antes ao aeroporto para provar que o que não é nada demais realmente não é nada demais."

Mas como um rapaz de 18 anos já tem tanta intimidade com uma pistola? Wu explica que sempre teve armas de tiro esportivo (que não usam balas, mas chumbinho) em casa. "Meu pai, filho de chineses, tinha o hábito de atirar e ensinou minha mãe. Assim, se na maioria das casas era raro ver uma arma, na minha era uma coisa comum", lembra. "Quando fiz oito anos meus pais me levaram a um clube de tiro. Foi lá que aprendi."

Wu, que começou a atirar como uma brincadeira, tomou gosto pelo esporte e recebeu apoio dos pais, que compraram os primeiros equipamentos. "Aos 11 anos comecei a treinar em casa. Aliás como sempre. Só saí daqui para ir ao Rio (no Complexo de Deodoro) algumas vezes antes da Olimpíada (da Juventude)." Diz que não costuma falar de sua atividade incomum. "Não é coisa que se diga em um grupo."

O atirador continua a aprimorar sua pontaria sob supervisão dos pais. "Atualmente tenho pistola, que ganhei de uma fábrica alemã, e também um simulador. O único problema é que não tem nenhum lugar em casa onde possa treinar na distância oficial, de 10 metros. Treino na distância de oito metros."

Em época de competições importantes, Wu dribla a dificuldade com uma ajuda de fora. "No ano passado, o pessoal do clube A Hebraica me deu permissão para treinar no stand de tiro, apesar de eu não ser sócio. Pedi novamente para esta temporada, mas ainda não me liberaram", conta o atirador, que já se prepara para lutar por uma vaga nos Jogos Pan-Americanos na cidade mexicana de Guadalajara, em outubro.

"Outra coisa que ainda não liberaram foi a minha bolsa-atleta. No ano passado foi rapidinho, mas, desta vez, não sei se por causa da mudança de presidente, está demorando. Espero que essas notícias de cortes no orçamento não interfiram e eu acabe ficando sem essa ajuda, que dá um alívio para meu pai", torce.

As atividades esportivas não impediram Wu de estudar. A família, segundo ele, é rigorosa no que diz respeito à educação até porque o pai do atirador é professor de física. "Este ano passei no vestibular do curso de ciências tecnológicas da Universidade Federal do ABC", conta, orgulhoso. A partir deste mês, o atirador vai se dedicar ao desafio de conciliar a vida de atleta e a de estudante.

A única coisa que foi sacrificada por Wu em prol da carreira, além das horas de treino, foi o futebol. "Não posso jogar uma bolinha com os amigos pois corro o risco de me machucar." Atividades físicas, só na academia. "São importantes porque se bobear eu ganho peso."
Por: estadao.com.br
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fonte: estadao.com.br e http://www.cbte.org.br/

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